QUAL A RELIGIÃO QUE DEUS PREFERE?

É evidente que um católico irá responder que é o catolicismo.
Um evangélico dirá que se trata do protestantismo.
Um budista afirmará ser o budismo, e um hindu o hinduísmo.
Um muçulmano não terá a menor dúvida que a mais legítima religião do mundo é o próprio Islã, pois o Alcorão foi ditado ao Profeta Maomé pelo Anjo Gabriel em pessoa.
Em suma, cada um dirá que a “sua” religião é aquela correta e que, portanto, é aquela preferida por Deus.

Seria oportuno dirigir a pergunta inicial diretamente ao Ser Supremo, mas isso, obviamente, não é muito viável.
Entretanto, uma forma indireta para obter uma resposta pode se fundamentar sobre uma investigação acerca dos relatos de pessoas que enfrentaram experiências de quase-morte (EQM).
Trata-se de fenômenos relatados por médicos e cientistas e publicados em livros que podem ser encontrados em livrarias ou até baixados pela internet.

 

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As EQM não são tão infrequentes, e um estudo do Instituto de Pesquisas Gallup de 1982 afirma que só nos Estados Unidos pelo menos oito milhões de pessoas vivenciaram esse tipo de experiência. Do ponto de vista estatístico, não há diferença entre indivíduos religiosos ou ateus: a probabilidade de ter uma EQM é a mesma.

Basicamente, o que caracteriza as EQM são alguns elementos distintivos comuns, ou seja:

1)  O indivíduo sai do corpo e enxerga os médicos tentando reanimá-lo;
2)  O “espírito” da pessoa pode se deslocar livremente e encontrar parentes próximos ou distantes;
3)  Em determinado momento o “espírito” entra num túnel escuro sendo, ocasionalmente, ajudado por seres luminosos que o confortam;
4)  Alcança um lugar maravilhoso inundado de paz e amor;
5)  Dialoga, mas sem usar palavras, com um Ser luminoso diante do qual os fatos mais salientes da sua vida aparecem de forma simultânea;
6) Em circunstância alguma o Ser de luz repreende ou condena o “espírito” o qual, diante da visão de sua vida, sente satisfação em relação aos fatos positivos ou profunda vergonha quando ele ofendeu ou fez mal a outra pessoa.

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O momento da passagem num quadro de Hieronymous Bosch (1450-1516)

O aspecto mais intrigante desse tipo de experiência é que o único fator significativo sobre o qual insiste o Ser Luminoso é o amor.
Nunca se fala em religião, e sim em bondade e compreensão.
Em seu livro “A luz além da vida”, o médico e psiquiatra americano Raymond A. Moody escreve o seguinte:

Um homem que entrevistei havia sido, no passado, um pastor bastante intransigente. Frequentemente, ele me disse, ameaçava os fiéis que, se não tivessem interpretado a Bíblia da forma oportuna, teriam sido condenados a queimar pela eternidade.
Mas enquanto estava “morto”, o Ser de luz pediu que ele não usasse mais aquela postura com os fiéis comunicando, não verbalmente, que essa postura deixava os fiéis bem tristes. Quando voltou ao púlpito, esse pregador anunciou uma mensagem de amor e não mais de terror”.

Outro relato bem interessante é o de uma pessoa que havia estudado num seminário:

Mediante aquela visão entendi quão burro e presunçoso fui quando fiquei intransigente em relação à teologia, olhando de cima para baixo quem não pertencesse à minha igreja ou não compartilhasse as minhas ideias teológicas. Muitas pessoas que conheço vão estranhar quando descobrirem que o Senhor nada se importa com a teologia! Quando muito a acha divertida! Na verdade, ele não tinha o menor interesse com a minha religião, apenas queria saber o que eu tinha no coração e não na cabeça”.

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Dr. Raymond Moody

O Dr. Moody, que realizou centenas e centenas de entrevistas, chegou à conclusão que:

Através dessa experiência, as pessoas compreendem que a religião não é uma questão de grupo “correto” em contraposição a grupos “errados”. Quem passa por uma EQM fica com a certeza que a religião tem a ver apenas com a capacidade de amar, despida de qualquer doutrina ou denominação”.

O Dr. Moody cita o depoimento de uma idosa que, desde a infância, havia sido uma luterana fervorosa, mas que depois duma EQM tornou-se uma pessoa muito menos intransigente e mais alegre. A quem a interrogava pedindo explicações, a senhora respondia que agora conhecia Deus e sabia que a Ele não importava nada da doutrina da igreja e de outras coisas.

Pois bem, ninguém pretende afirmar que esse Ser de luz seja Deus, Jesus, Alá, Buda ou qualquer outra Divindade, mas, se os relatos são verdadeiros ele seria um ser sagrado junto ao qual os “ressuscitados”, como eles mesmos declararam, gostariam imensamente de passar a eternidade.
E, fato ainda mais importante, o Ser de Luz não se importa minimamente com a religião do “falecido” e nem se ele é ateu, agnóstico ou descrente: o que realmente vale é a atitude interior, a vontade de operar o bem e de amar as outras pessoas.

Devido a inexistência de provas a respeito da realidade objetiva desse Ser, uma explicação racional é que se trate apenas da nossa consciência no estado mais puro e profundo. Uma consciência livre de condicionamentos, de dogmas, de regras e de imposições sociais, expressão da essência profundamente holística do ser humano.

Por outro lado, muitos estudiosos confutaram a tese segundo a qual as EQM representam uma forma de contato com outra dimensão ainda desconhecida. Há quem diga que são reminiscências do nascimento, excesso de bicarbonatos no sangue, simples alucinações, efeitos de drogas e/ou de medicamentos, falta de oxigênio, auto-engano do cérebro e outras teorias.

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No entanto, cientistas sérios e competentes como Raymond Moody, David Raft, Jeffry Andersen, Glenn Gabbard, Stuart Twemlow, Carl Becker, Martin Bauer, Tillman Rodabough, Bruce Greyson (diretor da revista Journal of Near-Death Studies) e muitos outros conseguiram demolir todas as críticas chegando à conclusão que as experiências são genuínas e não podem ser explicadas com os atuais conhecimentos científicos.

3 comentários

  1. Belo texto cheio de grandeza. Eu também creio neste SER Divino, Não há realmente uma religião preferida de Deus, pois em todas as religiões há pessoas boas e más. O povo fica perdendo tempo brigando por causa de religião, enquanto isto seus terceiros olhos não abrem para enxergar a luminosidade do AMOR…Quanta coisa poderiam aprender em meditações. relaxamentos…Aplausos mil, por nos presentear com um belo texto.

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  2. Um texto caprichado, muito bem escrito, como aliás o são todos os teus textos. Sobre o questionamento colocado: vou deixar aqui um fragmento que eu já disse por ai, vou continuar advogando no silêncio sobre Deus x religião como uma maneira de questionar as tentativas ilusórias e problemáticas que acompanham as tradicionais perguntas sobre ele. “Deus/religião”. Porque sempre quando humanos querem justificar atos/ações/atitudes ou outra coisa que seja negativa gostam de colocar Deus como um escudo. Acredito que (se existisse uma religião que eu dissesse que pudesse gostar).Seria a do amor. Não associo religiões à Deus, embora elas o associem à sua existência à Deus DEUS: Melhor ver a face do que ouvir o nome. Não se trata de negar a existência ou o seu valor, mas de apontar para além de sua realidade, ou melhor ainda, para a outra orelha da realidade e captar o fato central da vida. Não se trata de negação em sentido lógico, mas de extremo cuidado em preservar a condição misteriosa do último. Trata-se da negação como cifra da transcendência. Um abraço. Parabéns pela sala poética. Sucesso ao poeta das letras livres.

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